domingo, 15 de abril de 2012

Ler, ler!

Ler é exatamente transformar letras em sons e juntá-los formando palavras, ou seja, decifrar a escrita. Nada de novo até esse ponto. Na Antiguidade, os alunos eram alfabetizados aprendendo a ler textos escritos e depois copiando-os exaustivamente. Entretanto, muitas pessoas aprendiam a ler sem ir para a escola, já que não almejavam tornarem-se escribas” (CAGLIARI, 2010)

“Aprender a decifrar a escrita, ou seja, ler, relacionando os caracteres à linguagem oral, devia ser o procedimento comum. Aqui, não era preciso fazer cópias nem escrever: bastava saber ler. Para quem sabe ler, escrever é algo que vem como consequência.” (CAGLIARI, Alfabetizando sem o Bá Bé Bi Bó Bu. Scipione, 2010)

Tenho visto crianças escrevendo espontaneamente, após um curto período de leitura contínua de livros infantis. As primeiras frases surgem pela simples vontade de se comunicar, exatamente como todos nós. E nada mais agradável que aprender os recursos da escrita com a leitura, a partir de frases curtas, observando a pontuação, até a construção de pequenos textos. 


O livro é a principal fonte de aprendizado para a criança, desde que adequado à sua idade, tendo o orientador a importante tarefa de selecioná-lo e apresentá-lo em seu dia a dia.


Ivan, 5 anos (1998)

Desde o início da aprendizagem, as crianças sabem exatamente o que é desenho e o que é escrita, podendo juntar as duas linguagens para compor o que pretendem comunicar. Ler e desenhar faz o processo da escrita acontecer naturalmente. E, para dúvidas ortográficas, a melhor solução ainda é a leitura. Então, o que justifica uma criança passar horas copiando letras, palavras, sem a certeza que estará lendo após todo esse desgaste?

Nicoly aprendeu a ler entre janeiro e abril de 2009, aos quatro anos e meio. Foram vinte encontros, totalizando, no máximo, cinco horas de “estudo”. Brincávamos com as letras em EVA, formávamos algumas palavras e ela desenhava. Algumas vezes, só desenhava. Ao final desse período, iniciou a leitura de pequenos livrosadquirindo bastante fluência em poucos meses. Ler sozinha, que prazer!

Nicoly, 5 anos: Chapéu de Palha, Mary França (Ática)

A leitura de crianças alfabetizadas após os sete anos apresenta resquícios da silabação, tais como: os sons das vogais A, E O (Á, É Ó) assimilados com ênfase desde a pré alfabetização, interferindo na leitura de palavras com os sons Ã, Ê e Ô (VÉRMÉLHA, NÁÓ, CÓR); o deslocamento da sílaba tônica de algumas palavras (MÁÇÃ, NÁÓ); e separação de vogais em uma mesma sílaba (NÁ-O, E-U, PO-IS). Mas, aos poucos, é possível ler fluentemente no próprio dialeto. 

Ainda há mais um desafio para essas crianças: equilibrar a possibilidade de leitura e escrita momentânea com o conhecimento exigido pela escola que, a todo instante, cobra resultados pelo que não proporcionou — uma alfabetização que possibilite ler e escrever com facilidade e segurança.

2 comentários:

  1. Nossa, sinto-me muito feliz ao ver publicado algo que a Sofia escreveu, de forma tão espontânea, única exclusivamente para quem lhe alfabetizou.....
    Como a Sra. escreveu: "a partir de frases curtas," pequenos textos serão construídos.
    Um grande abraço.
    Telma.

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  2. Caramba!! vibrei com teu trabalho, parabéns!!Limpo.Traz algo mais, traz consigo o respeito pela inteligência e capacidade de cada um, indistintamente. O que é o exercício de tudo que aprendemos nesta jornada, de pais e mestres e dos que exerceram ainda que transitóriamente tais papéis em nossa vida. Grato pelo que apresenta e compartilha, é bom contemplar o que se faz por um Mundo Melhor.
    Sergio de Carvalho.

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