sexta-feira, 4 de maio de 2012

Hipóteses



Hipótese é uma formulação provisória com intenção 
de ser demonstrada, uma suposição admissível ou não.


Há bastante tempo procuro compreender o significado das hipóteses colocadas constantemente em textos relacionados à alfabetização — hipótese silábica, hipótese alfabética, hipótese conceitual, hipótese que gera inúmeros conflitos cognitivos! Em mais uma tentativa, fiz o teste de conhecimento direcionado a alfabetizadores, Interpretação de hipóteses da escritano site da revista Nova Escola (teste removido). 

Admiro quem consegue decifrar o significado dessas sequências escritas. Para mim, o enunciado já é um enigma. Enigma me faz lembrar Conan Doyle e da capacidade de dedução de Sherlock Holmes: simplificar o que parece um problema insolúvel. Entretanto, o que vejo nesses exercícios é o oposto: complica-se o que é simples. Confira as teorias de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky inspiradas em Piaget: A gênese da língua escrita

Analisando o resultado do aprendizado de algumas crianças que iniciaram comigo o processo de alfabetização, constato que não houve necessidade alguma de exercitar minha capacidade de dedução.


Quando escrevem
TATU quer dizer tatu, 
SOPA quer dizer sopa, 
ABACAXI significa 
simplesmente abacaxi!





Edson, 5 anos 
Gabriel, 5 anos

E quase sempre posso identificar o autor pelos traços das letras, mesmo que não escreva seu nome. É o que acontece quando se permite ser diferente. 









Kauã, 5 anos, 
inconfundível!







Maria Helena, 4 anos


 Francielly, 5 anos



O desenho totalmente livre desenvolve a coordenação motora para a escrita manual. E tudo é feito com prazer e capricho, pois a escolha é de cada um. Sugerir cópias de letras e desenhos iguais é desprezar a imensa criatividade e capacidade de aprendizado de uma criança. 



 Maria Eduarda, 5 anos



Luis Gustavo, 6 anos

Todos os registros acima foram feitos entre 18 de fevereiro e 2 de junho de 2010, durante um breve convívio com um grupo de 23 crianças — ao todo, 22 horas em 32 dias. Ao final, a maioria podia escrever palavras simples e iniciaram o processo de leitura. Alguns foram além, como Luis Gustavo, que leu qualquer palavra sugerida e até pequenos livros: estou treinando para ler em alta velocidade, foi o que disse na última vez que nos encontramos. 

Tenho que considerar a hipótese do aprendizado impecável dessas crianças ter sido uma mera coincidência e a facilidade para entender o processo da escrita uma simples obra do acaso. Mas qual o motivo de tantas não conseguirem ler? Há várias hipóteses. A que mais me intriga assemelha-se a um jogo de cabra cega, mas todos de olhos vendados — quem procura não encontra e quem deve orientar também não vê.