“Poemas não são de quem escreve, mas de
quem precisa deles”.
O Carteiro e o Poeta, de Michael Radford
Há poucos dias me deparei em uma situação desconfortável:
estar frente a prateleiras de livros e não saber o que
escolher. Bem mais fácil nas seções de literatura infantil, mas quero
escolher para mim, descobrir outro Machado, quem sabe, que me devolva o prazer
de sermos só nós dois, eu e o livro.
Passei os olhos e as mãos e vi que desconheço a maioria dos novos autores brasileiros. Escondido em
meio a tantos volumes, encontrei “Livro”. Senti as pequenas letras em relevo da capa, quase amor à primeira
vista — LIVRO, romance de José Luís Peixoto, escritor português, perdido na
estante de literatura brasileira.
“A mãe pousou o
livro nas mãos do filho. Que mistério. O rapaz não conseguia imaginar um propósito para o objeto que suportava. Pensou
em cheirá-lo, mas a porta do quintal estava aberta, entrava luz, havia muita
vida lá fora. O rapaz tinha seis anos, fugiu-lhe a atenção, distraiu-se, mas não se desinteressou pelo livro,
apenas deixou de o interrogar enquanto objeto em si, começou a questioná-lo de
maneira muito mais abstrata, enquanto intenção, enquanto sombra de um ato”.
José Luís Peixoto: Livro. Companhia das Letras, 2012.
Seis anos e um livro. Reler esse início fez-me lembrar que
Sofia completa seis anos e que amanhã volto às prateleiras de livros infantis.
Ler aos cinco anos, aos quatro, por que não? Para cada idade, um universo de sonho e imaginação. Lobato na infância, Machado de
Assis, eterno. Hoje, José Luís Peixoto. LIVRO, desde o título, despertou minha curiosidade, como
também o livro que Ilídio recebe da mãe. Lembro de
Elza de Moura, educadora mineira, justificando a dedicatória que não
fez: “Livro não tem dono, você lê e passa adiante”. Realmente, livros são de quem precisa deles.